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Unesp pesquisa pasto ecológico e mais lucrativo

Conservar a natureza e obter lucro. Esse conceito dá sustentação a uma das mais importantes experiências feitas no Brasil visando reduzir a emissão de gás metano na atmosfera e, ao mesmo tempo, acelerar o ganho de peso do gado nelore no sistema de pastagem tropical.

O projeto foi elaborado e está sendo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Jaboticabal (SP).

O metano (CH4) é o principal gás de efeito estufa gerado pela pecuária. Produzido pelo sistema digestivo do boi e eliminado pela boca e narina, é o segundo gás que mais contribui para o aquecimento global. Conhecer quanto o bovino de corte emite e as causas que influenciam é fundamental para a sustentabilidade da pecuária e o aprimoramento da prática.

Os experimentos são feitos desde 2014 e seguirão até o ano de 2021, porém, as pesquisas científicas remontam a uma década, informa o professor da Unesp e coordenador do projeto, Ricardo Andrade Reis. Ele é zootecnista com formação em pastagem. “Procuramos integrar o sistema, manejando ao mesmo tempo o pasto, os animais e o solo. Há ainda uma inter-relação com o clima e o mercado.”

Segundo o estudioso, a pecuária moderna deve atuar integrando todos os elos da cadeia produtiva. “A responsabilidade tem de ser repartida por todos, e o sistema só funciona se houver lucratividade”, afirma Ricardo. Essa dinâmica está sendo cada vez mais adotada no Brasil e é necessária, à medida em que o país se consolida como um dos maiores exportadores mundiais de carne, enquanto, paralelamente, exigências ambientais se acirram por parte do consumidor interno e internacional.

A pecuária praticada no Brasil é criticada por ser emissora de gases. Nos últimos dez ou 15 anos, no entanto, alta tecnologia genética, melhora considerável na alimentação e manejo do gado e pasto encarado como cultura mitigam os impactos ambientais. E mais: segundo Ricardo Reis, pastagens bem manejadas absorvem carbono e compensam o metano emitido pelas vacas. “Desmitificam assim o papel da atividade como vilã no processo de aumento das temperaturas globais. A opinião pública tem de receber informações seguras acerca dos resultados positivos referentes ao salto tecnológico nas fazendas. A pecuária de ponta hoje interage com a natureza, ajuda na conservação ambiental”, enfatiza Ricardo.

Os experimentos na Unesp comprovam. A adubação de pastagens de gramíneas tropicais com nitrogênio e a suplementação da dieta com nutrientes selecionados têm resultado na redução das emissões de gases de efeito estufa e no aumento do ganho de peso por hectare, o que se traduz em eficiência econômica. O projeto tem colaboração de especialistas da University of Queensland, da Austrália, da University of Florida, dos EUA, da Embrapa Pecuária Sudeste e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), Polo Regional de Assis.

É  financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O auxílio chega também de empresas privadas, que colocam seus produtos nos experimentos. O financiamento da Fapesp e a colaboração das empresas mantêm ativo o trabalho em tempos de verbas escassas para as universidades públicas. 

Braquiarão

“Regulamos as emissões de carbono por meio do manejo da forragem e também pela incorporação de nutrientes selecionados na dieta do boi”, observa Ricardo. O nelore – hoje são 250 cabeças – pasteja o capim braquiarão, cuja origem é a África, em área de 57 hectares. Para o período 2017/2018, a expectativa é o número de animais subir para 330.

Estão sendo feitos dois experimentos na estação das chuvas. Em um, o capim é manejado com 25 centímetros de altura e adubado com 180 quilos de nitrogênio por hectare ao ano. Os pesquisadores avaliaram o aumento das taxas de lotação e também as emissões em função da aplicação do fertilizante nitrogenado.

O nitrogênio, quando aplicado nas pastagens, tem a função de aumentar a produção de matéria seca, a disponibilidade de forragem e, por consequência, a capacidade de suporte da área, principalmente na época quente e chuvosa do ano, quando a eficiência de resposta à adubação nitrogenada é  maior.

Ricardo Reis explica que o aumento da disponibilidade de forragem e o manejo racional das pastagens garantem a melhoria da qualidade nutritiva do pasto, o que torna possível aumentar a taxa de lotação animal sem comprometer a produção. Ele observa que, em resultados preliminares, a taxa de lotação foi a 4,5 UA/ha (unidade animal por hectare), considerada boa. O conceito de 1 UA refere-se a um animal com 450 quilos de peso vivo.

No segundo experimento, a dieta do gado é acrescida de suplementos proteicos como farelo de soja e milho e polpa cítrica, e a UA sobe 0,5%, melhorando o ganho de peso. Além de o gado ficar mais pesado, as emissões de metano foram inferiores às do setor pecuário sem fertilização, segundo o professor. Ficou constatado também que o animal mais eficiente economiza na alimentação e gera menos fezes, que emitem metano. Daí a importância da genética, diz Ricardo.

O professor afirma que o bezerro chega desmamado e com 7 a 10 meses de idade para a experiência – que só faz, portanto, recria e engorda. Fica pronto para abate com 20 a 22 meses de idade e peso ao redor de 510 quilos. Para se ter ideia  do tempo de engorda, a média brasileira ainda supera os 40 meses. “A estratégia é trabalhar com o animal jovem e com alto potencial genético. Ele come menos, a conversão alimentar é mais rápida, e fica pouco tempo no pasto. A emissão é aplacada, evidentemente”, diz.

Os animais tiveram ganho de peso diário variando de 800 gramas a 1 quilo. A média no Brasil, sem adubação nitrogenada, é de 500 a 600 gramas. “O menor tempo de engorda libera áreas de pasto mais cedo pelos animais e a emissão de metano é diminuída. A tecnologia permite ainda que áreas degradadas sejam destinadas a outras finalidades, como florestas nativas ou cultivadas”, afirma Ricardo.

Fonte: www.revistagloborural.globo.com - Texto: Sebastião Nascimento

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